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13/04/2013 Zero Hora

Poder de compra de veículos novos anima presidente da Petrobras: "Meu negócio é vender combustível"


Maria das Graças Foster fala sobre facilidades para o brasileiro comprar um carro zero e diz que acha "lindo" congestionamento

Por Maria Isabel Hammes

Da mesma forma que brinca com um esmalte estragado de suas unhas, em seguida fala do plano bilionário de investimentos (US$ 236,7 bilhões até 2017) da maior companhia brasileira e ainda encontra tempo para ironias, como "acho lindo um engarrafamento", em alusão ao seu negócio: vender combustível. 

A primeira mulher a comandar uma companhia petrolífera no mundo e já eleita pelo jornal Financial Times como uma das principais executivas em ascensão no universo dos negócios construiu fama como eficaz, durona, cobradora de metas e resultados. 

Mas Maria das Graças Silva Foster, ou simplesmente Graça Foster, intrigada com os dois gravadores de ZH na entrevista exclusiva, na semana passada na Capital, encontrou tempo para contar histórias engraçadas de uma jornalista que teve de fazer a mesma entrevista três vezes por problemas com gravador que não funcionou, com assalto que levaram o gravador e por aí vai e termina rindo:

— Hoje, não tem entrevista alguma.

Em um minuto, a engenheira química mineira, ex-catadora de papel, garrafas e latas que vendia para ajudar sua família e comprar material escolar na favela onde morava no Rio, responde sobre sua altura — 1,78 m, que sempre aumenta, pois gosta “de saltos”. 

Logo, logo volta aos megaplanos da estatal que comanda. Investimentos neste ano de R$ 97,7 bilhões e 85 mil funcionários espalhados do alto mar, nas ricas plataformas de petróleo, às inúmeras operações em terra que garantem ao país posto invejável entre as maiores companhias do mundo do rentável mercado do petróleo. 

Às vésperas de completar 60 anos, Graça se entusiasma muito ao falar das novas plataformas que entrarão em operação no pré-sal e dos planos de autossuficiência — produção hoje é de 2,31 milhões de barris equivalentes/dia. E, claro, do compromisso em aumentar o parque gerador de energia neste momento complicado do abastecimento nacional.

Nada muito surpreendente para ela que já declarou sua paixão pela Petrobras, onde passa mais de 12 horas por dia e que ainda leva trabalho para casa, onde com o marido e dois filhos fala também de sua religiosidade e do amor pelo Carnaval.

A mesma família que aprendeu a conviver com sua extremada dedicação à estatal, onde entrou como estagiária há 32 anos e fez toda a carreira, que culminou com a presidência no ano passado. Indicação da amiga Dilma Rousseff, com quem se identifica pelo perfil rigoroso aliado a um conhecimento econômico e técnico, características que levaram The Wall Street Journal a descrevê-la como uma “respeitada tecnocrata”.

A mais poderosa executiva brasileira, que não foge à regra em roupas, os terninhos, das mulheres que ocupam essas posições, evitou poucas questões na conversa de 20 minutos, marcados religiosamente, que ganharam uma sobrevida de mais 13. Uma delas, claro, a possibilidade de novos aumentos na gasolina, que preferiu despistar. É o que você lerá a seguir:

Zero Hora — A Petrobras anunciou estratégia de desinvestimento, a venda de US$ 9,9 bilhões de alguns de seus ativos. Termelétricas como a Sepé Tiaraju, de Canoas, poderão ser negociadas? A empresa deixaria a parte de geração de energia?

Graça Foster — Olha, temos 18 termelétricas no país todo e uma responsabilidade gigante com o setor elétrico. Em outubro passado, fornecemos combustível, independentemente se a térmica é nossa ou não, para geração de 10 mil megawatts (MW) de energia elétrica, algo muito grande, e temos contratos de gás para 8,2 mil MW, além de nossas térmicas que dão mais 7 mil MW. Não existe, hoje, nenhum estudo na Petrobras que trate da venda de termelétricas.

ZH — Como está o estudo da Petrobras, governo do Estado, Samsung e Hyundai sobre a construção de um terminal de regaseificação de gás natural liquefeito e de uma fábrica de fertilizantes em Rio Grande?

Graça — É um projeto interessante, temos um termo de compromisso que vai até agosto. É um terminal de GNL, uma térmica, uma planta de fertilizantes e gás para a indústria. Paralelo a ele, temos um outro: a colocação de vários loops (instrumento pelo qual se amplia a capacidade de transporte) no gasoduto Brasil-Bolívia para entregar ao Rio Grande do Sul mais de 1 milhão de metros cúbicos por dia. Ambos estão em estudo. A Petrobras tem 27 milhões de metros cúbicos por dia de GNL, e o gás está caríssimo.

ZH — Ou seja, inviabiliza o projeto daqui?

Graça — Não estou dizendo que inviabiliza, mas é uma equação muito mais difícil porque este gás não é produzido no Brasil, nem na Bolívia e Argentina, bem próximos, mas no Catar, em Trinidad Tobago, em vários lugares.

ZH — Pode perder um, mas ganhou outro. O que significa a construção de outra plataforma, a P-74, no Estado?

Graça — É mais um contrato de uma unidade de produção para Franco 1, cessão onerosa do pré-sal, extremamente importante. Ficamos satisfeitos de saber que aqui no Rio Grande do Sul houve organização de empresas que ganharam esta licitação. O Rio Grande do Sul se coloca claramente como polo naval com experiência. Quando se tem uma operação isolada, a capacidade de se recuperar de eventuais atrasos é mais difícil. Quando você tem em Rio Grande a P-55, a construção de oito cascos, três sondas de perfuração e a P-58 e a P-62, Charqueadas e, agora, a EBR, você tem um cluster de conhecimento e capacidade de efetivamente cumprir prazos.

ZH — A senhora falou sobre a demanda de óleo, a meta da autossuficiência ficou para quando? Ainda é perseguida pela companhia?

Graça — Temos a área de exploração, produção, tratamento do óleo, refino e venda de derivados, ou seja, de ponta a ponta. E a gente também faz petroquímica, plástico. Em 2006, a produção de petróleo era pouco menos de 1,8 milhão de barris/dia e o consumo de derivados também era nessa faixa. Então, naquele quadro da economia do Brasil, você fotografa e diz que o Brasil era autossuficiente.

ZH — Com carros vendidos em até cem meses, os brasileiros foram às compras. E os engarrafamentos mostram bem isso.

Graça — Então, que maravilha! Acho lindo engarrafamento! Meu negócio é vender combustível. Só entendo que deveríamos ter sempre planos diretores para orientar o fluxo de carros a favor da sociedade. Acho lindo carro na rua, estou faturando... De 2006 até agora a demanda cresceu 4,9%, enquanto a produção de petróleo, 3,8%, gerando uma defasagem. Por isso, as plataformas são tão importantes – mais 15, além das de 2013 e 2014, vão entrar em operação até 2020. Em 2014, a curva de produção será puxada novamente. No próximo ano, o Brasil terá, através da produção da Petrobras e de seus parceiros, um volume de óleo igual ao de derivados.

ZH — Ou seja, volta a autossuficiência e, com isso, acabarão as importações?

Graça — Só vamos parar de importar diesel em 2018, quanto entrarem todas as refinarias e, em 2020, teremos capacidade de refino de 3,6 milhões de barris de petróleo por dia, mas a produção será de 4,2 milhões. Aí exportaremos petróleo.

ZH — A viabilidade do pré-sal foi questionada, e as ações da Petrobras tiveram grande baixa. Temos ou não muito petróleo a descobrir no Brasil?

Graça — O pré-sal é uma realidade. Os projetos são de longa maturação, levam até 10 anos para produzir o primeiro óleo. Nos últimos 14 meses tivemos mais de 50 descobertas. Dessas, 15 são no pré-sal, oito pioneiras. Ou seja, mostram para nós que o potencial é maior ainda. O grau de sucesso chega a 82% na perfuração. Perfura e acha. Se você considerar pré-sal, pós-sal e campos de terra no Brasil inteiro, nas bacias sedimentares, a taxa de sucesso é 64%. Uma excelente taxa mundial é 30%. Neste ano, voltaram as licitações para concessão de blocos pela Agência Nacional do Petróleo. Outras empresas virão. O Brasil tem característica interessante na área de energia: a estabilidade do marco regulatório e o respeito aos contratos. É algo importante.

ZH — Até para dar mais segurança ao investidor externo.

Graça — Não só para o externo. Na indústria do petróleo não deve haver dúvida sobre a estabilidade regulatória. É o caso das grandes empresas vindo para cá, já que trabalhar offshore, no mar, não é para empresa pequena.

ZH — Então, não adianta começar uma empresa agora...

Graça — (risos)... Mas a Petrobras é sua...

ZH — Por falar nos parceiros, sairá o socorro da Petrobras ao grupo de Eike Batista?

Graça — Desde setembro, temos discussões de oportunidades de negócios. Está em construção um superestaleiro, no porto de Açu (RJ). O grupo X tem uma infraestrutura muito grande e estamos trabalhando projeto a projeto com eles. O grupo tem, junto com a Mendes Júnior, outros dois contratos para plataformas. Tem navios que ganharam licitações e outros assuntos que estamos discutindo. Mas tudo será alvo de licitação.

ZH — Até porque existe a exigência do conteúdo nacional. Cogita-se a possibilidade de elevar o índice para 65%?

Graça — No momento, esse índice está de bom tamanho. O conteúdo local traz vantagens à Petrobras. Uma coisa é você sair daqui para ir à Coreia, ao Japão, a Cingapura. A outra é pegar um helicóptero na Petrobras e, em 40 minutos, estar em Angra, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Se a produção é em outro país, ainda terá questões de alfândega para entrar.

ZH — Há atrasos nos projetos da Petrobras, como plataformas? A estatal já foi, inclusive, atrás de novos fornecedores no Exterior.

Graça — Neste ano, sete plataformas entrarão em operação. É a primeira vez que contamos com tantas unidades entrando em operação. Temos grandes descobertas e precisamos destas unidades para produzir o óleo. O que houve foi uma interpretação equivocada (referência à notícia sobre atraso de 60% das 10 plataformas previstas pra entrega neste ano e em 2014) do que significavam os atrasos. A gente coloca, por exemplo, que devia estar 80% pronta em janeiro e o índice era de 70%. Mas a data que aparece já considera o atraso de um, dois meses.

ZH — E a gasolina, vai aumentar ainda mais neste ano?

Graça — Foram quatro aumentos do diesel, 21,4%, mais 14,9% em dois reajustes na gasolina na refinaria. Este é o meu preço para as distribuidoras. Na bomba, a gasolina só subiu uma vez porque antes tinha Cide e, depois, não mais. Olhando hoje para o quadro do Brent e para a taxa de apreciação do real, para o câmbio, não há previsão de aumento de combustível.

ZH — Até quando decisões políticas vão prevalecer como o caso que levou o terminal de regaseificação à Bahia em vez de instalá-lo no Sul, como a senhora havia dito?

Graça — Não há questão política. O terminal foi para a Bahia porque a gente teve – e eventualmente ainda tem – problemas de fornecimento de gás no Nordeste. Então, para dar mais firmeza ao suprimento de gás, fazia mais sentido colocar no Nordeste. Mas não está descartado o GNL no Rio Grande do Sul. O projeto está vivo.

ADVB/RS



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