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O vinho da Copa é brasileiro
por Suzana Barelli
A Lidio Carraro é uma pequena vinícola familiar da Serra Gaúcha, que elabora ao redor de 300 mil garrafas a cada safra. A partir deste ano, a vinícola vai dobrar de tamanho graças a uma parceria inédita: ela foi escolhida pela Fifa para fornecer os vinhos oficiais da Copa do Mundo de 2014. O anúncio do acordo foi programado para a segunda-feira 25, durante a ProWein, importante evento voltado aos negócios do setor que acontece em Düsseldorf, Alemanha. O primeiro vinho a ser apresentado será o tinto, em maio, provavelmente no Brasil. Os outros dois vinhos, um branco e um rosé, devem ser lançados até o fim deste ano.
Pelo acordo, a Fifa recebe royalties por cada garrafa vendida e a Lidio Carraro tem o direito de usar o selo de vinho licenciado oficial da Copa. A vinícola ainda terá de elaborar pelo menos 500 mil garrafas dos três vinhos entre 2013 e 2014 – as primeiras começam a ser vendidas já na Copa das Confederações, em junho. “Ainda estamos desenvolvendo o blend final”, afirma a enóloga Mônica Rossetti, diretora-técnica da Lidio Carraro. “Nos tintos, definimos que a base será a uva merlot; nos brancos, provavelmente a chardonnay.” Mônica vai aproveitar a feira alemã para apresentar amostras dos vinhos para os especialistas e, a partir dessas opiniões, definir a composição final do tinto.
As negociações com a Fifa começaram no fim de 2011. Na ocasião, a entidade estudava convidar uma grande vinícola da América do Sul para elaborar os vinhos oficiais da competição, talvez por desconhecer a qualidade da bebida brasileira. O modelo de ter o vinho oficial da competição foi testado em 2010, na Copa da África do Sul. Na ocasião, a Nederburg, uma das vinícolas da Distell, maior grupo vitivinícola sul-africano, foi escolhida para elaborar os três vinhos. “Foi um rótulo personalizado, que vendeu muito bem no mercado brasileiro”, diz Thais Carvalhal, diretora da Casa Flora, que importa o produto para o Brasil. Mas, com o fim da competição, os sul-africanos voltaram a ter pouca representatividade no mercado nacional.
No caso brasileiro, Juliano Carraro, diretor-comercial da vinícola, aposta que a divulgação do vinho da Copa vai aumentar o consumo de seus produtos no mercado brasileiro e trazer ganhos de imagem para a marca no mercado internacional. E, assim, deve elevar suas exportações, que hoje representam 30% da produção da vinícola. Para isso, ele se baseia no fato de já ter elaborado o vinho oficial dos jogos Pan-Americanos, em 2007, e o rótulo brasileiro do 30º aniversário da Stock Car, em 2010. Agora, para a Copa, a Lidio Carraro terá o desafio de elaborar a bebida a partir de uvas compradas de terceiros. Até hoje, a vinícola, fundada em 1998 e com a primeira safra em 2002, somente fez brancos, tintos e espumantes com uvas de seus 42 hectares de vinhedos próprios, localizados na região de Encruzilhada do Sul (RS) e na Serra Gaúcha.
“Pelo volume, não dá para trabalhar apenas com as nossas uvas”, afirma Juliano Carraro. A matéria-prima adicional virá de produtores de Encruzilhada, da região de Campanha e da Serra Gaúcha. A ideia da Lidio Carraro é apresentar vinhos com o estilo brasileiro e manter sua filosofia de não trabalhar com barricas de carvalho para, assim, manter a “pureza” da bebida. “Serão bem aromáticos, frutados e com bom frescor, fáceis de serem consumidos e devem ser bebidos jovens”, afirma Mônica. Os três vinhos com o rótulo personalizado serão da linha Faces, uma nova categoria que a vinícola já estudava lançar no mercado, com preços mais competitivos. O plano é vendê-los para o consumidor por até R$ 29,90. É um novo patamar de preço da vinícola, que hoje tem vinhos de R$ 39 (a linha Agnus) até R$ 268, no caso do Grande Vindima Tannat e do Singular Nebbiolo.
Lidio Carraro