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Mídia

06/03/2013 Jornal do Comércio

Papel, carvão e câmera


Reconhecido internacionalmente por sua produção rica e incomum, o sul-africano William Kentridge ganha sua maior exposição na América do Sul, apresentando esculturas, desenhos, filmes e animações, gravuras e videoinstalações, produzidos a partir de 1989. Aos 57 anos, o artista plástico laureado em 2011 com o prestigioso Kyoto Prize - em reconhecimento às suas contribuições no campo das artes visuais e da filosofia - inaugura a mostra nesta quinta-feira, das 19h às 21h, com visitação de 8 de março a 26 de maio, na Fundação Iberê Camargo (Padre Cacique, 2.000). A exposição já passou pelo Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro e, após Porto Alegre, segue para a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Ao todo, serão apresentadas 31 esculturas, 32 desenhos, 26 filmes e animações, 115 gravuras e duas videoinstalações. Com papel, carvão e uma câmera, Kentridge virou referência internacional e criou um trabalho multifacetado, criando pontes entre as artes visuais e o cinema.

Com a curadoria de Lilian Tone,William Kentridge: fortunaevidencia o processo de criação pouco convencional do artista em seu estúdio, em Johannesburgo. A escolha das obras, portanto, ao contrário de privilegiar um viés temático, destaca a variedade e o vigor da produção prolífica do artista ao longo de mais de duas décadas, mostrando como seu trabalho se dissemina por contaminação interna, em uma gama de diferentes plataformas culturais e mídias artísticas. “Queria ter algo que demonstrasse o excesso do estúdio, o fato de que há sempre muitas coisas acontecendo, uma abundância... Um ambiente que mostraria a abertura dessas coisas alterando-se”, explica Kentridge em vídeo produzido para a exposição.

Na produção do artista, objetos cotidianos aparecem constantemente, mais do que apenas o espaço de trabalho. “O estúdio é um personagem central na prática de Kentridge, um espaço de invenção onde o artista parece quase organicamente incorporado”, diz Lilian Tone. Segundo o próprio artista, fortuna - palavra presente no título exposição - refere-se ao que acontece no estúdio, à condição do trabalho artístico em estado constante de construção, ao sentido de descoberta, menos do que invenção, à celebração da excentricidade, sem perda do engajamento político.

Algumas prerrogativas de sua criação são evidentes em sua obra, como a utilização de elementos reais, referências implícitas a lugares, situações e eventos. O mais forte desses elementos é a memória social da África do Sul e seu histórico do Apartheid, particularmente na cidade de Johannesburgo - onde Kentridge nasceu, vive e trabalha. Segundo a curadora, um dos destaques da exposição são os desenhos da série dePaisagens coloniais, baseados em gravuras de exploradores europeus na África, pouco conhecidos dentro da obra do artista e provenientes do início de sua carreira.

O artista alcançou visibilidade internacional com a série de curtasDrawings for projection(em português, desenhos para projeção). Iniciada em 1989, a série é, segundo o artista, o alicerce de sua produção. Todos os dez filmes são mostrados pela primeira vez em conjunto, acompanhados por 23 desenhos feitos durante sua preparação. Em suas animações, o sul-africano emprega uma técnica caseira inventada por ele, descrita como “cinema da idade da pedra”. Kentridge filma, quadro a quadro, alterações que faz sobre um único desenho, feito em carvão ou pastel.

William Kentridge: fortuna

•Visitação: 8 de março a 26 de maio, de terça a domingo, das 12h às 19h (nas quintas-feiras, das 12h às 21h)

•Na Fundação Iberê Camargo (Padre Cacique, 2.000)

•Entrada franca

Fundação Iberê Camargo



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