Mídia
Papel, carvão e câmera
Reconhecido
internacionalmente por sua produção rica e incomum, o sul-africano William
Kentridge ganha sua maior exposição na América do Sul, apresentando esculturas,
desenhos, filmes e animações, gravuras e videoinstalações, produzidos a partir
de 1989. Aos 57 anos, o artista plástico laureado em 2011 com o prestigioso
Kyoto Prize - em reconhecimento às suas contribuições no campo das artes
visuais e da filosofia - inaugura a mostra nesta quinta-feira, das 19h às 21h,
com visitação de 8 de março a 26 de maio, na Fundação Iberê Camargo (Padre
Cacique, 2.000). A exposição já passou pelo Instituto Moreira Salles, no Rio de
Janeiro e, após Porto Alegre, segue para a Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Ao todo, serão
apresentadas 31 esculturas, 32 desenhos, 26 filmes e animações, 115 gravuras e
duas videoinstalações. Com papel, carvão e uma câmera, Kentridge virou
referência internacional e criou um trabalho multifacetado, criando pontes
entre as artes visuais e o cinema.
Com a curadoria de
Lilian Tone,William
Kentridge: fortunaevidencia
o processo de criação pouco convencional do artista em seu estúdio, em Johannesburgo.
A escolha das obras, portanto, ao contrário de privilegiar um viés temático,
destaca a variedade e o vigor da produção prolífica do artista ao longo de mais
de duas décadas, mostrando como seu trabalho se dissemina por contaminação
interna, em uma gama de diferentes plataformas culturais e mídias artísticas.
“Queria ter algo que demonstrasse o excesso do estúdio, o fato de que há sempre
muitas coisas acontecendo, uma abundância... Um ambiente que mostraria a
abertura dessas coisas alterando-se”, explica Kentridge em vídeo produzido para
a exposição.
Na produção do
artista, objetos cotidianos aparecem constantemente, mais do que apenas o
espaço de trabalho. “O estúdio é um personagem central na prática de Kentridge,
um espaço de invenção onde o artista parece quase organicamente incorporado”,
diz Lilian Tone. Segundo o próprio artista, fortuna - palavra presente no
título exposição - refere-se ao que acontece no estúdio, à condição do trabalho
artístico em estado constante de construção, ao sentido de descoberta, menos do
que invenção, à celebração da excentricidade, sem perda do engajamento
político.
Algumas
prerrogativas de sua criação são evidentes em sua obra, como a utilização de
elementos reais, referências implícitas a lugares, situações e eventos. O mais
forte desses elementos é a memória social da África do Sul e seu histórico do
Apartheid, particularmente na cidade de Johannesburgo - onde Kentridge nasceu,
vive e trabalha. Segundo a curadora, um dos destaques da exposição são os
desenhos da série dePaisagens coloniais, baseados em gravuras de
exploradores europeus na África, pouco conhecidos dentro da obra do artista e
provenientes do início de sua carreira.
O artista alcançou
visibilidade internacional com a série de curtasDrawings for projection(em português, desenhos para
projeção). Iniciada em 1989, a série é, segundo o artista, o alicerce de sua
produção. Todos os dez filmes são mostrados pela primeira vez em conjunto,
acompanhados por 23 desenhos feitos durante sua preparação. Em suas animações,
o sul-africano emprega uma técnica caseira inventada por ele, descrita como
“cinema da idade da pedra”. Kentridge filma, quadro a quadro, alterações que
faz sobre um único desenho, feito em carvão ou pastel.
William Kentridge: fortuna
•Visitação: 8 de março a 26 de maio, de terça a domingo, das 12h às 19h (nas
quintas-feiras, das 12h às 21h)
•Na Fundação Iberê
Camargo (Padre Cacique, 2.000)
•Entrada franca
Fundação Iberê Camargo