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O tempo de Erico Verissimo
Mais de três mil itens referentes à obra e à vida do escritor de O tempo e o vento. É essa a quantidade de material que o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Andradas, 1.223) reuniu para a inauguração do Memorial Erico Verissimo, que ocorre a partir das 12h de hoje. Os arquivos estão dispostos no terceiro e no sexto andares do edifício e podem ser visitados de terça a sexta-feira, das 10h às 19h, e nos sábados, das 11h às 18h.
Entre as peças, constam 34 volumes originais e ainda manuscritos, correspondências, desenhos, fotos, mapas, vídeos, filmes e fortuna crítica. A coletânea pertencia a dois amigos do autor, o jornalista e bibliógrafo Mário de Almeida Lima e o doutor em Letras Flávio Loureiro Chaves. “Uma parte significativa foi-me dada pelo próprio Erico”, relembra Chaves, citando um mapa da cidade de Antares como exemplo de material cedido. O desenho foi utilizado pelo autor na elaboração de Incidente em Antares, e a geografia do município fictício também pode ser conferida em três dimensões. “Outra parte [das contribuições] é uma pesquisa de informações realizada durante os últimos 30 anos”, completa ele, autor da tese Erico Verissimo: realismo e sociedade.
Já o auxílio de Mário de Almeida Lima, já falecido, vai além do material doado. Os familiares do jornalista apresentaram um projeto voltado para captação de recursos que, somado ao patrocínio de Gerdau e da CEEE, possibilitou o agrupamento dos acervos no espaço em questão.
Na distribuição realizada, o terceiro piso oferece aos visitantes a oportunidade de conhecer peças históricas, como os originais da obra de estreia de Verissimo, Fantoches (1932), e do segundo livro da trilogia O tempo e o vento, O retrato (1951). Além disso, ainda figuram no andar um espaço infantil e uma linha do tempo construída a partir de recursos iconográficos - traçando um paralelo entre acontecimentos históricos e a vida do escritor e apresentando interatividade através de vídeos e depoimentos. “O Centro Cultural vai retomar, digamos assim, a vocação inicial de ser depositário da obra do Erico”, comemora a coordenadora do projeto, Márcia Ivana de Lima e Silva.
Já a biblioteca O Continente ganha novas instalações e mobiliário. O espaço é voltado à consulta, mas o acesso físico ao material é restrito, em razão do caráter único dos arquivos. Entretanto, a diretora do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Regina Ungaretti, assegura que tudo estará disponível também pela internet.
Além da obra do filho de Cruz Alta
“O memorial é fundamental também para quem quer examinar a personalidade do escritor como indivíduo.” A frase é de Flávio Loureiro Chaves, que conheceu Erico Verissimo após uma iniciativa à base “da cara e da coragem”.
Então estudante de Letras e já admirador da obra do escritor, Chaves foi procurá-lo para conversar sobre literatura, e a empatia foi mútua. Como resultado, teve início uma amizade só encerrada com o falecimento de Verissimo.
A partir da experiência pessoal, ele afirma que o autor de Olhai os lírios do campo era um defensor da liberdade, o que o coloca em uma posição humanista. A característica, segundo ele, também aparece na sua obra: “Saga (1936) é um livro comprometido com a causa antifascista”, exemplifica, citando também Incidente em Antares, de trama passada no governo militar.
Chaves satisfaz-se pela incorporação do acervo pelo CCCEV. Para ele, é importante que bens culturais sejam colocados à disposição do público. “Isso ajuda a lembrar do seguinte: a literatura foi feita para os leitores, não foi inventada para os iniciados”, afirma, em referência à questão do trabalho de o (hoje celebrado) autor só ter sido acolhido pela crítica com maior intensidade a partir da década de 1970.
Centro Cultural CEEE Erico Verissimo