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10/02/2013 Revista Bravo!

Giorgio Morandi no Brasil: De onde vem a calma


Mostra exibe 55 obras daquele que ficou conhecido como “o pintor das garrafas”. Em depoimento à BRAVO!, outro pintor, o brasileiro Paulo Pasta, explica por que o italiano Giorgio Morandi retrata, na verdade, o silêncio

por Gisele Kato

A primeira vez que tive um contato mais profundo com Giorgio Morandi (1890-1964) foi em um fascículo da coleção Gênios da Pintura, publicada pela editora Abril. Eu estava com cerca de 18 anos. Olhei aqueles trabalhos e, de cara, me senti arrebatado. Queria ser pintor desde os 13, 14 anos e ouvira falar de Morandi, mas nunca havia me deparado com uma quantidade razoável de imagens que me ajudassem a ter um entendimento maior de sua obra. Quando isso aconteceu, no fim da década de 1970, foi uma revelação.

Naquela época, eu havia acabado de chegar a São Paulo e estava estudando para o vestibular de arquitetura, mas já sabendo que cursaria artes plásticas. Lembro que pensava muito em Henri Matisse, em Paul Klee, e pintava paisagens, naturezas-mortas, os temas clássicos de Paul Cézanne, outro pintor importante para mim. Foi quando fiz uma série sobre canaviais. A cidade onde nasci, Ariranha, no interior paulista, tem uma economia baseada na plantação de cana-de-açúcar e seu cenário acabou transformado por essa monocultura. Virou um grande mosaico de planos verdes, uma espécie de antipaisagem – uma coisa horrível do ponto de vista social, ambiental, mas muito interessante do ponto de vista plástico. Nesse momento, Morandi fez ainda mais sentido para mim. Atraiu-me de imediato, mesmo que eu não conseguisse entendê-lo com exatidão – ou talvez justamente por isso. Hoje, associo tal fascínio à simplificação dos planos daquela paisagem, que encontrava eco nas suas pinturas. O primeiro impacto que Morandi me causou foi essencialmente pictórico.

Quase um Milagre

Sempre me encantou a maneira como ele convertia o mundo em tinta, como manipulava o material, como conferia a tudo uma luz especial, que hoje chamamos de “morandiana”, uma luz leitosa, que banha os objetos de modo constante. Sua pincelada respeita muito os detalhes, mas o que prevalece é uma espécie de síntese espacial. Depois de ser seduzido pela tonalidade de Morandi, passei a observar seu viés silencioso, a “monotonia”, a insistência em tentar atingir o grande através do pequeno. Ele está, aparentemente, falando do banal, do comezinho, mas essa faceta assume uma dimensão muito maior. Seu universo está embrulhado em calma. Está em suspensão.

Não demorou para eu descobrir que o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo tinha na sua coleção duas naturezas-mortas de Morandi. Então, sempre que podia, dava um jeito de ir até o museu e vê-las de perto. O momento em que mais me aproximei de Morandi, no entanto, foi quando comecei minha série das “colunas”, em meados da década de 1990. Esse conjunto exibe um jogo de cores, uma permuta entre elas e o fundo da tela, que se relaciona com o trabalho do mestre italiano.

Posso dizer que a influência de Morandi permeia toda minha trajetória. Considero suas pinturas quase um milagre. E enxergo-o como uma espécie de deus por conseguir criar um sistema em que o que pinta encontra identificação em como se pinta, privilégio exclusivo dos grandes.

Cubismo e Metafísica

Todavia, não é incomum vermos Morandi ser reduzido ao estereótipo de um artista que passou a vida pintando garrafas. Isso, claro, não é justo nem verdadeiro. Ele produziu obras que respondem de maneira muito consistente a Cézanne, Pablo Picasso e Giorgio de Chirico. Na minha opinião, o espaço morandiano assimila e rebate todos esses legados. Com 30 anos, ele dá uma resposta à metafísica, filtrando-a no cotidiano, nos objetos do dia a dia. A metafísica se encontra mesmo na base de seu trabalho: a construção de um mundo suspenso no tempo, a comunhão entre o espaço e o tempo, como dizia o poeta francês René Char. Quando Morandi cria uma ambiguidade entre figura e fundo, entre o que está à frente da tela e o que está atrás, é com Picasso que dialoga.

A pintura do italiano, para mim, parece feita de poeira cósmica. O que sobra das coisas? Mineral, cinzas, ossos. Quando olho para um Morandi, sinto-me diante desse tipo de matéria. Quem for procurar vida, pulsação ou vibração nele pode se frustrar. Seu universo é desidratado. Ele só pintava flores de pano ou de papel, nunca naturais. O mundo de Morandi parece já ter morrido. É dessa forma que ele atinge a eternidade. Isso me soa como pura metafísica.

Vale destacar ainda o que chamo de “ética morandiana”. O artista não se rendia, não se vendia, não se traduzia, não se permitia banalizar. Se observarmos atentamente sua obra, parece que ele estava sempre disposto a começar um trabalho para encontrar ou descobrir a mesma coisa. Morandi reafirmava seus valores de modo constante, confirmava seu jeito de estar no mundo. E assim permaneceu. O que não significa que não haja variações e transformações em suas pinturas. Podemos agrupá-las em séries, identificar maneiras diferentes de pincelar, períodos em que trabalhou mais com algumas cores do que com outras.

Sua influência sobre os artistas brasileiros é ampla. Iberê Camargo, Amilcar de Castro, Milton Dacosta, Eduardo Sued, Tunga, Waltercio Caldas, Paulo Monteiro e Sergio Sister são alguns dos muitos que foram marcados pela maneira como a relação espacial se apresenta em Morandi, bem como pela sua construção pictórica. Para mim, ele ensina a ver no “pouco” uma virtude. Situa seu universo próximo ao real, ressignificando-o no silêncio e na calma do mundo doméstico.


A ExposiçãoGiorgio Morandi no BrasilFundação Iberê Camargo (av. Padre Cacique, 2000, Porto Alegre, RS, tel. 0++/51/3247-8000). Até dia 24/2. De 3ª a dom., das 12h às 19h; 5ª, das 12h às 21h. Grátis.

Fundação Iberê Camargo



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