Mídia
Entre o vazio e a matéria
A
retrospectiva de Waltercio Caldas tira proveito da arquitetura paradoxal da
Fundação Iberê Camargo para ressaltar alguns dos temas mais caros ao artista
carioca
A retrospectiva
de Waltercio Caldas, em cartaz na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre,
estabelece um dos diálogos mais bem-sucedidos com a arquitetura elegante e, ao
mesmo tempo, simples do edifício projetado pelo português Álvaro Siza. Com
curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro e Ursula Davila-Villa, a mostra,
intitulada O Ar Mais Próximo e Outras Matérias,
reúne 87 trabalhos do artista carioca, alguns deles inéditos no país, caso
de Eureca (2001), Planisfério (2011)
e Donde(2009), que integram coleções privadas. Juntas, as
obras compõem um conjunto que diz muito sobre os temas paradoxais mais caros a
Waltercio, como a presença e a ausência, o vazio e a matéria, o espaço físico e
o do pensamento.
Um
exemplo da poética contraditória do artista já surge numa das primeiras salas,
com Aquário Completamente Cheio, de 1981, peça
tridimensional que une as sensações de síntese e expansão: ao mesmo tempo em
que a obra é um recipiente muito bem definido, seu exterior, feito de espelho,
reflete o observador e o entorno, alargando os limites do trabalho. É nessa
junção de opostos que Waltercio aproxima as artes visuais da arquitetura: ele
se vale de um prédio marcado tanto por áreas livres e fluidas (o átrio é um
exemplo disso) quanto pelo uso destacado de materiais nada leves (o mármore, a
madeira e o concreto branco).
Artista
de enigmas
Obras
que privilegiam o conceitual também dão robustez à exposição, como os variados
desenhos de linhas, projeções e volumes retos compilados dos anos 70 para cá.
Tal conjunto forma bom par com os livros de artista, linguagem na qual
Waltercio figura entre os grandes nomes no Brasil, em especial com a famosa
série Velázquez, de 1996, na qual apaga figuras de telas do
célebre pintor espanhol, e a menos conhecida É=(O Espelho) Um Véu?,
de 1998, objeto-livro em que ele trabalha com frame do
filme The Crawling Eye (1958), folhas de papel e uma
esfera metálica.
Se as
obras “menores” de Waltercio surpreendem por sua consistência, os ambientes e
as instalações não deixam de ser centrais numa abordagem sobre sua produção.
Nesse sentido, o trabalho que dá nome à retrospectiva revela muito da força
extensiva a cada um deles. Constituída apenas por fios de lã que pendem do
teto, O Ar Mais Próximo, de 1991, é uma construção
enigmática, difícil de ser digerida de bate- pronto pelo espectador. Em seu
cerne, no entanto, está uma das principais investigações do artista, a matéria,
ali representada em um de seus elementos mais ordinários, a lã. Depois de Porto
Alegre, essas inquietações seguem para a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o
Blanton Museum of Art, no estado norte-americano do Texas.
A exposição: Waltercio
Caldas: O Ar Mais Próximo e Outras Matérias. Fundação Iberê Camargo
(av. Padre Cacique, 2000, Porto Alegre, RS, tel. 0++/11/51/3247-8000). Até
18/11. De 3ª a dom., das 12h às 19h; 5ª, até as 21h. Grátis.
Fundação Iberê Camargo