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Mídia

06/06/2013 Zero Hora

Do dizível ao visível


Elida Tessler ganha primeira exposição retrospectiva na Fundação Iberê Camargo

Mostra que reúne produção dos últimos 20 anos terá inauguração nesta quinta-feira. Visitação será aberta ao público a partir de sexta-feira

Diante de 17.302 fichas bibliográficas enfileiradas em uma gaveta em curva, Elida Tessler pausa a fala. Pensativa, silencia ao manusear o fichário de formato inusitado. Retoma a conversa e comenta:

- Me formei no Instituto de Artes da UFRGS e sou professora lá há 20 anos. Imagina o quanto já frequentei aquela biblioteca. Esse gesto de procurar no fichário é algo afetivo em termos de tempo e memória.

Elida fala de Gaveta dos Guardados: Biblioteca, obra que fez especialmente para a exposição que será inaugurada nesta quinta-feira, na Fundação Iberê Camargo (FIC), com visitação a partir de sexta-feira, juntamente com A Pintura É que É Isto, de Paulo Pasta. É a primeira mostra individual e retrospectiva de Elida desde o começo da carreira, nos anos 1980. Gramática Intuitiva apresenta obras dos últimos 20 anos, tempo em que a artista nascida em 1961 fez seu percurso acadêmico no Brasil e na França, expondo em diversos países. Em Porto Alegre, esteve nas Bienais do Mercosul de 1999 e 2011 e foi, com Jailton Moreira, responsável pelo Torreão, espaço de arte contemporânea na ativa entre 1993 e 2009.

Elida trabalha hoje voltada às relações entre arte e literatura, articulando imagem visual e palavra escrita. Suas instalações se apropriam de livros, textos e outros objetos cotidianos ou pessoais, como meias e prendedores de roupa, propondo novos significados de forma poética e conceitual.

É conhecido o exemplar do romance Meu Nome É Vermelho, do turco Orham Pamuk, no qual Elida fez intervenções gráficas ao longo das mais de quinhentas páginas, marcando todas as palavras ou trechos que não faziam referência à cor do título. O resultado foi a instalação Meu Nome Também É Vermelho, com 200 porta-retratos que reproduzem as páginas riscadas pela artista. O trabalho de 2009 é remontado em uma sala na FIC.

Com curadoria de Gloria Ferreira, Gramática Intuitiva conta com instalações e objetos artísticos. São apenas 14 obras, mas o conjunto é expressivo e ganha força no formato da exposição. Ao longo da parede em curva na rampa que leva ao quarto andar, estão 1.184 placas com advérbios retirados do romance A Vida Modo de Usar (1978), de Georges Perec. Essa instalação, A Vida Somente (2005), foi criada na Itália e é reeditada na FIC com o título A Vida Somente à Margem, em alusão à proximidade do Guaíba.

Ao todo, 40 referências a livros relacionados a trabalhos de Elida constam em fichas vermelhas incluídas entre as 17 mil da obra Gaveta dos Guardados: Biblioteca. Inspirado no texto de mesmo nome de Iberê Camargo, o trabalho conta com um móvel, projetado pela sobrinha Daniela Tessler, que recria o fichário de madeira da biblioteca do Instituto de Artes da UFRGS.

- Trabalho com a memória, e as fichas são um material potente. O que se escreve detém algo do tempo que passou - diz Elida, explicando o formato da obra: - Está em curva porque eu queria uma espécie de abraço.

Fundação Iberê Camargo



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