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Como se fosse a primeira vez
Waltercio Caldas inaugura neste sábado exposição na Fundação Iberê Camargo.
Carioca de 65 anos é um dos mais importantes artistas brasileiros da atualidade.
Waltercio Caldas é possivelmente o melhor exegeta de sua própria obra. Em uma das salas da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, onde inaugura neste sábado uma exposição individual com 87 obras (algumas delas inéditas), ele explica, com a clareza de um professor.
– Sempre me interessou nos objetos tridimensionais o fato de que aferimos algumas coisas que são invisíveis mas damos como se existissem. – E completa: – Deixe eu me explicar melhor.
Então, o carioca de 65 anos, um dos mais importantes artistas brasileiros, convida o repórter para caminhar até encontrar duas esferas no chão, parte da obra Escultura para Todos os Materiais Não Transparentes, de 1985. De onde estamos, observa-se que uma delas está fatiada verticalmente. Pode-se supor (ou não) que a outra esfera também está.
– Aí a pessoa vai conferir – explica Waltercio, dando alguns passos para a frente. – Deste novo ponto de vista, não vemos qualquer corte. E, quando chegamos aqui – ele dá um novo passo –, vemos apenas o corte da segunda esfera. Ou seja, nunca temos acesso à obra inteira. O trabalho funciona nessa tensão.
Com o título O Ar Mais Próximo e Outras Matérias, a exposição apresenta obras produzidas desde 1969, entre objetos, instalações e desenhos. Desde sua primeira individual, em 1973, Caldas se firmou como um artista sem um suporte ou material de preferência. Se há algo que une sua produção é o interesse pela tridimensionalidade _ mesmo em um desenho com nanquim sobre papel.
A seleção feita pelos curadores Gabriel Pérez-Barreiro (da Colección Patricia Phelps de Cisneros, na Venezuela e nos Estados Unidos) e Ursula Davila-Villa (do Blanton Museum of Art, no Texas) privilegia menos a cronologia e mais os "núcleos de densidade", na expressão de Caldas. Em outras palavras: as relações entre as obras no espaço de exposição são tão importantes quanto as próprias obras. Um desses núcleos é a transparência, que aparece tanto em Condutores de Percepção (1969), uma caixa com hastes de cristal e prata, obra de referência em sua produção, quanto na recentePlanisfério (2011), estrutura de aço inoxidável com recortes em camurça. Para além das explicações, interessa a Waltercio Caldas sobretudo o choque do encontro:
– Para mim, o principal elemento de uma obra é quando ela aparece para nós pela primeira vez. Apenas depois ficamos sabendo quem a criou, em que ano, e aí você a localiza. Mas de certa maneira você a perdeu para sempre.
A exposição estará aberta para visitação até 18 de novembro. Em 2013, seguirá para a Pinacoteca do Estado de São Paulo e para o Blanton Museum.
Fundação Iberê Camargo