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26/09/2015 Jornal Zero Hora - Capa do Segundo Caderno

Com mais de 4 mil obras, acervo digital da Fundação Iberê Camargo está disponível a partir desta semana


Explorar a intimidade e conhecer detalhes da vida e da criação de Iberê Camargo, um dos mais importantes artistas da História da Arte Brasileira, será possível a partir desta semanaquando ocorre o lançamento do Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo (FIC). Na data, serão apresentados o hotsite e o projeto da digitalização, inicialmente em versão beta, viabilizados por meio de patrocínio da Gerdau e da Petrobras, via Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. O evento será realizado no auditório da FIC, a partir das 15h, e terá entrada gratuita, mediante inscrição no site da Fundação. Os participantes irão receber certificado e catálogo da exposição Iberê Camargo: um trágico nos Trópicos.   

O  acervo digital (www.iberecamargo.org.br/acervodigital) disponibilizará mais de 4 mil obras e centenas de documentos, como catálogos, recortes de jornais e revistas, correspondências, cadernos de notas e fotografias, armazenados pela esposa de Iberê, Maria Coussirat Camargo. Das quatro mil obras, três mil estão em alta resolução, acompanhadas de fichas técnicas, históricos e informações relacionadas, revelando um repertório nunca visto antes em exposições. “Estamos acompanhando uma tendência seguida pelos principais museus do mundo”, diz o superintendente da Fundação Iberê Camargo, Fábio Coutinho.

Curiosidades

No hotsite, será possível conferir preciosidades, como um cartão de Natal que Iberê recebeu de Jorge Amado e Zélia Gattai e a troca de correspondência dele com o também artista Alberto da Veiga Guignard. Em uma das cartas, Guignard sugere ao gaúcho que conheça Jurujuba, na cidade de Niterói (RJ). A resposta de Iberê veio na forma de uma gravura da casa da “tia Maria”, que ele fez posteriormente, quando esteve em Jurujuba.

Outras curiosidades do acervo são um abaixo-assinado liderado por Iberê e enviado ao presidente das Organizações Globo na época, Roberto Marinho, criticando o fato de o jornal O Globo dar cotações “bom”, “razoável”, “sofrível”, às exposições de arte.  “Os conceitos estéticos em todos os períodos históricos férteis são, quase sempre, conflitantes. A eleição de um único ponto de vista para a aferição da diversificada produção artística nacional é, por conseguinte, extremamente perigosa como elemento cultural e injusta como prática social ...”, diz o texto assinado por Iberê. Outro documento é um bem-humorado cartão postal com a foto de uma cabrita, enviado da Suíça por Mário Carneiro, fotógrafo do Cinema Novo e amigo de Iberê, em 1953. Na correspondência, Carneiro escreveu: “Meu caro professor, talvez ainda hoje te escreva longamente. O que não impede que te mande este instantâneo da tua cabrita, que veio comigo pastar nestas alturas. Um abraço, Mário.”

Atualização contínua

O projeto Digitalização e Disponibilização dos Acervos da Fundação Iberê Camargo foi criado para oferecer a estudantes, pesquisadores, professores, colecionadores e comunidade em geral um amplo acesso às obras do artista e documentos que fazem referência a ele. “É um projeto vivo e em crescimento constante, um trabalho de pesquisa e disponibilização que seguirá sendo atualizado, sempre apresentando novas relações, complementação de dados e de documentos de forma contínua”, diz o coordenador do projeto, Gustavo Possamái. Segundo ele, mais adiante será possível que sejam realizadas novas pesquisas e aproximações com a obra de Iberê Camargo, tanto a partir de seus escritos e depoimentos, quanto por meio de comentários críticos elaborados por teóricos e historiadores do campo das artes.

O acervo estará organizado em dois núcleos: de obras e documental. No caso dos documentos, serão apresentados aqueles que citam diretamente as obras da coleção, por meio de imagem ou de comentários, criando uma bibliografia de cada obra. Incluem-se nesse escopo todos os eventos documentados dos quais o artista participou, identificados através de pesquisas, já que, como lembra Eduardo Haesbaert, coordenador do acervo da FIC, “o artista e sua esposa, Maria Camargo, tiveram preocupação constante de preservar e documentar os 60 anos de produção artística de Iberê, que hoje servem como registro de sua trajetória”.

A iniciativa, além de permitir um relacionamento de dados entre os dois acervos da Fundação, agilizará o controle, disseminação e democratização das informações, ampliando o desenvolvimento de ações de pesquisa. A próxima etapa da FIC é aprofundar o mapeamento histórico e fortuna crítica das obras, possibilitando o crescimento da visão sobre a produção do artista e sua inserção no campo da arte. No projeto ainda consta a intenção de se produzir áudio-descrição para deficientes visuais. A Fundação Iberê Camargo também pretende aumentar o cadastro e exibição de um número maior de obras de Iberê, incluindo as que integram outras coleções e permitindo apresentar, pela primeira vez, a obra completa do artista.

SERVIÇO 
Acervo digital da Fundação Iberê Camargo disponível a partir desta semana.

Acesso: www.iberecamargo.org.br/acervodigital


O ARTISTA E O FRASISTA

“Tenho sempre presente que a renovação é uma condição de vida. Nunca me satisfaz o que faço. Ainda sou um homem a caminho.”

De excepcional habilidade com o pincel e extraordinária intimidade com as palavras, Iberê Camargo construiu uma trajetória em que pintura e literatura quase se confundem. Os quadros que pintou e as frases que cunhou têm a mesma marca: o abandono, a dor, o desespero. O crítico Augusto Massi afirmou que Iberê é um caso raro de um grande pintor que é também um notável escritor. No livro de contos A Gaveta dos Guardados, escrito entre 1993 e 1994, Iberê evidencia que conhecia tão bem o colorido dramático das palavras, quanto o movimento do pincel.

“O drama, trago-o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade mais profunda que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia-a-dia com o colorido das orgias e da alienação do povo. Não faço mortalha colorida.”

Filho de ferroviários, praticamente cresceu desenhando. Nascido aos 18 de novembro de 1914, e aos quatro anos já produzia os primeiros rabiscos. Sua trajetória enigmática encerrou-se aos 79 anos, quando, no limite da enfermidade, pintou “Solidão” seu último quadro. Morreu no dia 8 de agosto de 1994, vítima de câncer em Porto Alegre.

“Arte, para mim, foi sempre uma obsessão. Nunca toquei a vida com a ponta dos dedos. Tudo o que fiz, fiz sempre com paixão. No fundo, um quadro para mim é um gesto, um último gesto.”

As sucessivas transferências do pai Adelino fizeram-no peregrinar na juventude entre Restinga Seca, Jaguari, Canela e Santa Maria, onde, aos 13 anos, então morando com a avó, começou seu aprendizado de pintura, na Escola de Artes e Ofícios. Sua iniciação com a arte pedagógica, no entanto, foi interrompida abruptamente. Um desentendimento com um professor marista que ensinava Letras abreviou seu estágio na primeira escola de artes que freqüentou.

“As figuras que povoam minhas telas envolvem-se na tristeza dos crepúsculos dos dias de minha infância. Nascem da minha saga, da vida que dói. Sou impiedoso e crítico com minha obra. Não há espaço para alegria. Toda a grande obra tem raízes no sofrimento. A minha nasce da dor.”

Iberê viria repetir a rebeldia contra os mestres anos depois no Rio de Janeiro. Aconselhado por Portinari, cuja obra não admirava, ingressou na Escola de Belas Artes, mas, inconformado com os padrões rígidos da academia, ficou pouco a vontade para prosseguir, encerrando rapidamente suacarreira universitária que apenas começava. Depois da breve experiência na Escola de Belas Artes, tornou-se aluno de Guignard, um dos mestres que influenciou sua pintura.

“No modernismo, ou você se parecia com Segall ou com Portinari. Eram dois pólos e você tinha que estar entre um ou outro.”

Antes de se transferir para o Rio, conheceu Maria, em Porto Alegre, com quem casou em 1939. Maria Coussirat, estudante de pintura graduada do Instituto de Belas Artes e professora de desenho da escola primária, foi sua companheira por toda a vida. Suapaixão pela pintura foi crescendo. Em companhia de Vasco Prado, desenhava tipos de rua, sem jamais abandonar sua origem interiorana.

“A memória é a gaveta dos guardados, repito para sublinhar. O clima de meus quadros vem da solidão da campanha, do campo, onde fui guri e adolescente. Na velhice perde-se a nitidez da visão e se aguça a do espírito.”

 

Em 1947, já no Rio de Janeiro, a chance de conhecer o Velho Continente veio com o disputadíssimo Prêmio de Viagem à Europa, com o óleo “Lapa”, destaque no Salão de Arte Moderna, atualmente no Museu Nacional de Belas Artes. Na Europa viu de uma só vez o que conhecia apenas através de escassas informações. Tornou-se aluno de De Chirico em Roma e Lhote em Paris. Viajou por vários países da Europa para ver arte. Regressando ao Brasil, nos fins de novembro de 1950, recomeçou a pintar, ainda atordoado pelo que tinha visto e ouvido.

“Continuo no mesmo rumo, pintando as minhas ladeiras, essas mesmas ladeiras que subo com tanta fadiga. E naturalmente continuo fiel ao meu estilo de arte, construindo o quadro sem recorrer a elementos formais, transformando a natureza em ritmos e sensações coloridas.”

Mestre da pintura moderna no Brasil, Iberê recolheu recortes da infância para retratar sua obra. Em 1958, uma hérnia de disco, provocada pela suspensão de um quadro no cavalete, obrigou-o a trabalhar quase que exclusivamente no ateliê. Seja por essa razão ou por motivos inconscientes, seus quadros começaram pouco a pouco a mergulhar na sombra. O céu das paisagens tornou-se azul-escuro, negro, dando a sua obra um conteúdo de drama. Surge então a produção em que Iberê retrata carretéis sobre a mesa e no espaço.

“Os carretéis são reminiscências da infância. São combates dos pica-paus e dos maragatos que primo Nande e eu travávamos no pátio. Eles estão impregnados de lembranças. Pelas estruturas de carretéis cheguei ao que se chama, no dicionário da pintura, arte abstrata.”

Depois de participar de exposições internacionais em Nova York e Tóquio e de ganhar o prêmio de gravura na Bienal do México e de melhor pintor nacional na VI Bienal de São Paulo, Iberê integra várias exposições coletivas e individuais no Brasil e exterior. Em 1982, Iberê e Maria voltam a residir em Porto Alegre, mas mantêm o ateliê do Rio de Janeiro, dividindo seu tempo entre as duas cidades. Os ciclistas dos anos 80 são personagens incorporados à obra iberiana, quando o artista retorna ao Rio Grande do Sul.

"Voltei para o Sul porque a saudade estava grande demais. À medida que envelhecemos, parece que a infância fica mais perto. Sentimos vontade de reencontrar os primeiros amigos e tudo que foi nosso."

Mudando-se para o bairro Cidade Baixa, próximo ao Parque da Redenção, Iberê iniciou um íntimo convívio com o parque e com seus freqüentadores, sobretudo com os ciclistas. Velozes e muitas vezes sem metas, a não ser pedalar, personificavam um pouco do sentimento do próprio artista. Os ciclistas de Iberê Camargo refletem muito do próprio pintor: um ser em busca de suas verdades e raízes. Marcam os personagens mórbidos que povoam o imaginário do artista no final de sua vida.

“Sou um andante. Carrego comigo o fardo do meu passado. Minha bagagem são os meus sonhos. Como meus ciclistas, cruzo desertos e busco horizontes que recuam e se apagam nas brumas da incerteza.”

A morte de Iberê não encerrou um ciclo; deu início a outro: o do culto à obra e à memória de um dos artistas mais brilhantes e instigantes do Brasil. Através dos anos, críticos e artistas de todas as escolas tentam desvendar os mistérios e a profundidade de sua criação.

“Ainda sou um homem a caminho.”

Fundação Iberê Camargo



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