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08/01/2016
“IBERÊ CAMARGO: UM TRÁGICO NOS TRÓPICOS” CHEGA AO CCBB BH
Exposição apresenta retrospectiva dos trabalhos do
artista, com mais de 130 obras, incluindo pinturas, desenhos, gravuras e
matrizes. Em cartaz de 27 de janeiro a 28 de março, com entrada gratuita
Belo
Horizonte começa 2016 dando as
boas-vindas ao trabalho do artista Iberê Camargo. Reconhecida, em 2014, pela
Associação Paulista de Críticos de Arte como a melhor exposição retrospectiva, “Iberê
Camargo: um trágico nos trópicos” traz 134 obras, sendo 49 pinturas, 40 desenhos,
32 gravuras e 10 matrizes especialmente selecionados pelo curador,
professor e crítico de arte Luiz Camillo Osorio. A mostra, que já passou
pelo CCBB-SP, MAM Rio e CCBB-Brasilia, fica em exibição no Centro Cultural
Banco do Brasil – no Circuito Liberdade, de 27 de janeiro a 28 de março,
com entrada gratuita. O CCBB BH fica na Praça da Liberdade, 450 –
Funcionários.
Em
“Iberê Camargo: um trágico nos trópicos” os trabalhos do artista se dividem
em dois eixos: o primeiro, entre as décadas de 1950 e 1970, destaca o período em que a poética de Iberê ganha
maturidade e apreende característica própria após seu período de formação. O
segundo, já no final da década de 1980 e início dos anos 1990, é marcada por
sua dimensão trágica. “É a fase crepuscular de Iberê Camargo”, explica Camillo Osorio. De
acordo com o curador, nesse contexto, o público terá a oportunidade de ver o
processo inteiro de uma obra acontecer. “Iberê é um dos maiores artistas da
segunda metade do século XX; um pintor que brigou pela qualidade das tintas e,
consequentemente, pela valorização das obras. Foi uma vida inteira dedicada à
arte”.
A
exposição apresenta desde obras da fase Natureza Morta,
iniciada na década de 1950 – período em que Iberê retornou
da Europa para o Rio de Janeiro depois de estudar com mestres como Carlos
Alberto Petrucci, De Chirico e André Lhote, até as grandes e trágicas telas de sua última
fase, nos anos 1990, que incluem as séries Ciclistas, As Idiotas e Tudo
Te é Falso e Inútil.“O núcleo da exposição é o processo de
amadurecimento da trajetória de Iberê,
dos Carretéis até as telas dos anos 1980, quando a figura
humana começa a reaparecer”, adianta Camillo Osorio.
A
diversidade artística do pintor, que passa por pinturas, desenhos, guaches e
gravuras, não revela nenhuma preferência em especial, mas um processo natural de sua
carreira. “Iberê era pintor, que se estendia pelo desenho, onde ia se soltando
e ganhando ritmo. O desenho era a usina de suas ideias pictóricas. Já o trabalho
com a gravura era quase um sacerdócio. Nas telas, o público confere o
trabalho sempre trágico de Iberê que é mais atípico no
Brasil. A exposição retrata seu olhar sombrio, noturno e solitário”, revela
o curador.
O
coordenador de acervo da Fundação Iberê Camargo, Eduardo Haesbaert, observa que
o artista sempre pensou em como fazer o quadro, começando primeiro um estudo e
depois passando este estudo para as telas. “Era racional, mas no momento de
pintar, muito impactante”. O superintendente cultural da Fundação, com
sede em Porto Alegre, Fábio Coutinho, reforça que “Iberê Camargo:
um trágico nos trópicos é uma das maiores retrospectivas já realizadas com
a obra do artista” .
O ARTISTA E O FRASISTA
“Tenho sempre presente que a renovação é uma condição de
vida. Nunca me satisfaz o que faço. Ainda sou um homem a caminho.”
De excepcional habilidade com o pincel e extraordinária
intimidade com as palavras, Iberê Camargo construiu uma trajetória em que
pintura e literatura quase se confundem. Os quadros que pintou e as frases que
cunhou têm a mesma marca: o abandono, a dor, o desespero. O
crítico Augusto Massi afirmou que Iberê é um caso raro de um grande pintor que
é também um notável escritor. No livro de contos A Gaveta dos Guardados,
escrito entre 1993 e 1994, Iberê evidencia que conhecia tão bem o colorido
dramático das palavras, quanto o movimento do pincel.
“O drama, trago-o na alma. A minha pintura, sombria,
dramática, suja, corresponde à verdade mais profunda que habita no íntimo de uma
burguesia que cobre a miséria do dia-a-dia com o colorido das orgias e da
alienação do povo. Não faço mortalha colorida.”
Filho de ferroviários, praticamente cresceu desenhando.
Nascido aos 18 de novembro de 1914, e aos quatro anos já produzia os primeiros
rabiscos. Sua trajetória enigmática encerrou-se aos 79 anos, quando, no limite da
enfermidade, pintou “Solidão” seu último quadro. Morreu no dia 8 de agosto de
1994, vítima de câncer em Porto Alegre.
“Arte, para mim, foi sempre uma obsessão. Nunca toquei a
vida com a ponta dos dedos. Tudo o que fiz, fiz sempre com paixão. No fundo, um
quadro para mim é um gesto, um último gesto.”
As sucessivas transferências do pai
Adelino fizeram-no peregrinar na juventude entre Restinga Seca, Jaguari, Canela
e Santa Maria, onde, aos 13 anos, então morando com a avó, começou seu
aprendizado de pintura, na Escola de Artes e Ofícios. Sua iniciação com a arte
pedagógica, no entanto, foi interrompida abruptamente. Um desentendimento com
um professor marista que ensinava Letras abreviou seu estágio na primeira
escola de artes que freqüentou.
“As figuras que povoam minhas telas envolvem-se na
tristeza dos crepúsculos dos dias de minha infância. Nascem da minha saga, da
vida que dói. Sou impiedoso e crítico com minha obra. Não há espaço para
alegria. Toda a grande obra tem raízes no sofrimento. A minha nasce da
dor.”
Iberê viria repetir a rebeldia contra os mestres anos
depois no Rio de Janeiro. Aconselhado por Portinari, cuja obra não admirava, ingressou na Escola de Belas Artes, mas, inconformado com
os padrões rígidos da academia, ficou pouco a vontade para
prosseguir, encerrando rapidamente suacarreira universitária que apenas
começava. Depois da breve experiência na Escola de Belas Artes, tornou-se aluno de
Guignard, um dos mestres que influenciou sua pintura.
“No modernismo, ou você se parecia com Segall ou com
Portinari. Eram dois pólos e você tinha que estar entre um ou outro.”
Antes de se transferir para o Rio, conheceu Maria, em
Porto Alegre, com quem casou em 1939. Maria Coussirat, estudante de pintura
graduada do Instituto de Belas Artes e professora de desenho da escola
primária, foi sua companheira por toda a vida. Suapaixão pela
pintura foi crescendo. Em companhia de Vasco Prado, desenhava tipos de rua, sem
jamais abandonar sua origem interiorana.
“A memória é a gaveta dos guardados, repito para
sublinhar. O clima de meus quadros vem da solidão da campanha, do campo, onde
fui guri e adolescente. Na velhice perde-se a nitidez da visão e se aguça a do
espírito.”
Em 1947, já no Rio de Janeiro, a chance de conhecer o
Velho Continente veio com o disputadíssimo Prêmio de Viagem à Europa, com o óleo “Lapa”, destaque no Salão de Arte
Moderna, atualmente no Museu Nacional de Belas Artes. Na Europa viu de uma só
vez o que conhecia apenas através de escassas informações. Tornou-se aluno de
De Chirico em Roma e Lhote em Paris. Viajou por vários países da Europa para
ver arte. Regressando ao Brasil, nos fins de novembro de 1950, recomeçou a
pintar, ainda atordoado pelo que tinha visto e ouvido.
“Continuo no mesmo rumo, pintando as minhas ladeiras,
essas mesmas ladeiras que subo com tanta fadiga. E naturalmente continuo fiel
ao meu estilo de arte, construindo o quadro sem recorrer a elementos formais,
transformando a natureza em ritmos e sensações coloridas.”
Mestre da pintura moderna no Brasil, Iberê recolheu
recortes da infância para retratar sua obra. Em 1958, uma hérnia de disco,
provocada pela suspensão de um quadro no cavalete, obrigou-o a trabalhar quase
que exclusivamente no ateliê. Seja por essa razão ou por motivos inconscientes, seus
quadros começaram pouco a pouco a mergulhar na sombra. O céu das paisagens
tornou-se azul-escuro, negro, dando a sua obra um conteúdo de drama. Surge
então a produção em que Iberê retrata
carretéis sobre a mesa e no espaço.
“Os carretéis são reminiscências da infância. São
combates dos pica-paus e dos maragatos que primo Nande e eu travávamos no pátio. Eles estão impregnados de lembranças. Pelas estruturas de
carretéis cheguei ao que se chama, no dicionário da pintura, arte abstrata.”
Depois de participar de exposições internacionais em Nova
York e Tóquio e de ganhar o prêmio de gravura na Bienal do México e de melhor pintor
nacional na VI Bienal de São Paulo, Iberê integra várias exposições coletivas e
individuais no Brasil e exterior. Em 1982, Iberê e Maria voltam a residir em
Porto Alegre, mas mantêm o ateliê do Rio de Janeiro, dividindo seu tempo entre
as duas cidades. Os ciclistas dos anos 80 são personagens incorporados à obra
iberiana, quando o artista retorna ao Rio Grande do Sul.
"Voltei para o Sul porque a saudade estava grande
demais. À medida que envelhecemos, parece que a infância fica mais
perto. Sentimos vontade de reencontrar os primeiros amigos e tudo que foi
nosso."
Mudando-se para o bairro Cidade Baixa, próximo ao Parque
da Redenção, Iberê iniciou um íntimo convívio com o parque e com seus
freqüentadores, sobretudo com os ciclistas. Velozes e muitas vezes sem metas, a
não ser pedalar, personificavam um pouco do sentimento do próprio artista. Os
ciclistas de Iberê Camargo refletem muito do próprio pintor: um ser em busca de
suas verdades e raízes. Marcam os personagens mórbidos que povoam o imaginário
do artista no final de sua vida.
“Sou um andante. Carrego comigo o fardo do meu passado.
Minha bagagem são os meus sonhos. Como meus ciclistas, cruzo desertos e busco
horizontes que recuam e se apagam nas brumas da incerteza.”
A morte de Iberê não encerrou um ciclo; deu início a
outro: o do culto à obra e à memória de um dos artistas mais brilhantes e instigantes
do Brasil. Através dos anos, críticos e artistas de todas as escolas tentam
desvendar os mistérios e a profundidade de sua criação.
“Ainda sou um homem a caminho.”
SOBRE O
ARTISTA
Artista
de rigor e sensibilidade únicos, Iberê Camargo
é um dos grandes nomes da arte brasileira do século XX. Autor de uma obra
extensa, que inclui pinturas, desenhos, guaches e gravuras, Iberê Camargo
nasceu em Restinga Seca, interior do Rio Grande do Sul, Brasil, em 1914.
Em
1927, iniciou seu aprendizado em pintura na Escola de Artes e Ofícios de Santa
Maria. Em 1936, mudou- se para Porto Alegre, onde conheceu Maria Coussirat
Camargo. E foi com tela e tintas dela, então estudante do Instituto de Belas
Artes, que Iberê pintou seu primeiro quadro, às margens do
Riacho, na Cidade Baixa – assim começou o namoro do casal e assim “começou o
pintor”. Em 1939, Iberê e Maria se casaram. Em 1942, ano de sua primeira
exposição, o artista e sua esposa mudaram-se para o Rio de Janeiro, onde
viveram por 40 anos.
Admirador
e amigo de artistas brasileiros como Goeldi e Guignard, em 1948 viajou para a
Europa (através de um Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, conquistado com sua obra
Lapa, de 1947) em busca de aprimoramento técnico. Durante sua estada, visitou
museus, realizou cópias dos grandes mestres da pintura e estudou gravura e
pintura com Giorgio De Chirico, Carlo Alberto Petrucci, Leoni Augusto Rosa,
Antonio Achille e André Lhote.
De
volta ao Brasil, em 1950, Iberê conquistou inúmeros prêmios e participou
de diversas exposições internacionais, tais como Bienal de São Paulo, Bienal de
Arte Hispano-Americana em Madri, Bienal de Veneza, Bienal de Gravuras em
Tóquio, entre outras exposições importantes. Foi no final dos anos 1950 que,
devido a uma hérnia de disco que o obrigou a pintar no interior de seu ateliê, o artista
desenvolveu um dos temas mais recorrentes em sua pintura: os Carretéis. São
estes brinquedos de sua infância que o levaram, mais tarde, à abstração,
e que estiveram presentes em sua obra até a fase final.
Na década de 1980, retomou a figuração. Mas, ao longo de toda
sua produção, nunca se filiou a correntes ou movimentos. Em 1982, retornou a
Porto Alegre, onde produziu duas de suas séries mais conhecidas: as Idiotas e
os Ciclistas.
Iberê Camargo
faleceu em agosto de 1994, aos 79 anos, deixando um grande acervo de mais de 7
mil obras, entre desenhos, gravuras e pinturas. Grande parte desta produção foi
deixada a Maria, sua esposa e companheira inseparável, cuja coleção compõe hoje
o acervo da Fundação Iberê Camargo.
ACERVO
DIGITAL
Além
das obras em exposição no CCBB BH, o público pode acessar o Acervo Digital da
Fundação Iberê Camargo (www.iberecamargo.org.br/acervodigital).
São 4 mil obras disponibilizadas em hotsite, com possibilidade de pesquisas
cruzadas entre imagens e informações. O acervo digital traz ainda centenas de
documentos, como catálogos, recortes de jornais e revistas, correspondências, cadernos de
notas e fotografias, armazenados pela esposa de Iberê, Maria Coussirat
Camargo. Das quatro mil obras, três mil estão em
alta resolução, acompanhadas de fichas técnicas, históricos e informações
relacionadas, revelando um repertório nunca visto antes em exposições. “Estamos
acompanhando uma tendência seguida pelos principais museus do mundo”, diz o
superintendente da Fundação Iberê Camargo, Fábio
Coutinho.
CURIOSIDADES
No hotsite, é possível
conferir preciosidades, como um cartão de Natal que Iberê recebeu de Jorge Amado
e Zélia Gattai e a troca de correspondência dele com o também artista
Alberto da Veiga Guignard. Em uma das cartas, Guignard sugere ao gaúcho que
conheça Jurujuba, na cidade de Niterói (RJ). A resposta de Iberê veio na forma
de uma gravura da casa da “tia Maria”, que ele fez posteriormente, quando
esteve em Jurujuba.
Outras curiosidades do acervo são um abaixo-assinado
liderado por Iberê e enviado ao presidente das Organizações Globo na época,
Roberto Marinho, criticando o fato de o jornal O Globo dar cotações
“bom”, “razoável”, “sofrível”, às exposições de arte. “Os conceitos estéticos
em todos os períodos históricos férteis são, quase sempre, conflitantes. A
eleição de um único ponto de vista para a aferição da diversificada produção
artística nacional é, por conseguinte, extremamente perigosa como elemento
cultural e injusta como prática social ...”, diz o texto assinado por Iberê.
Outro documento é um bem-humorado cartão postal com a
foto de uma cabrita, enviado da Suíça por Mário Carneiro, fotógrafo do Cinema
Novo e amigo de Iberê, em 1953. Na correspondência, Carneiro
escreveu: “Meu caro professor, talvez ainda hoje te escreva longamente. O que
não impede que te mande este instantâneo da tua cabrita, que veio comigo pastar
nestas alturas. Um abraço, Mário.”
SERVIÇO
EXPOSIÇÃO
“IBERÊ CAMARGO – UM TRÁGICO NOS TRÓPICOS”
Curadoria: Luiz Camillo Osorio | 134 obras entre pinturas,
desenhos, gravuras e matrizes
Data: 27 de janeiro a 28 de março de 2016
Local: CCBB BH – Praça da Liberdade, 450, Funcionários
Horários
de visitação: De quarta a segunda,
das 9h às 21h
ENTRADA
GRATUITA
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