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28/05/2019
Exposição Roupas para não Vestir encanta e causa estranheza
As roupas revelam muito sobre as pessoas que as usa.
Agora Roupas para Não Vestir, o que nos revela? Essa é a provocação da artista Cristina
Rosa na exposição
que teve abertura no dia 11 de junho, às 19h, e segue até 12 de
julho, com curadoria de Carlos Wladimirsky, na Sala
Arquipélago do Centro Cultural CEEE Erico Veríssimo - CCCEV (Rua dos Andradas,
1223, Centro Histórico).
Os vestidos e corseletes que estão sendo apresentados em tamanho natural
abusam do relevo e de texturas que surpreendem e causam estranheza. Ora, a
artista cobre as suas roupas de papel com um emaranhado de cobras, sapos,
baratas, moscas e aranhas pintadas com acrílico em tons terra-cota. Em outra peça, surge a alegria
das cores e da diversidade de materiais, que podem ser rendas, tules, contas,
botões, brinquedos de
plásticos, flores, repletos de significados poéticos e
divertidos, reservando ao espectador instigantes surpresas visuais. No dia da
abertura, os visitantes serão recebidos com a coreogradia do bailarino Eduardo
Severino.
“São vestimentas escultóricas que convidam o expectador a vestir o repertório de nosso inconsciente, habitado por brincadeiras
infantis, signos arquetípicos, fobias,
sexualidade ou medos”, explica a artista. A
temática feminina é presença forte nas reinterpretações e
construções de identidade da artista plástica como aconteceu nas
mostras Mulheres da Vida (2008) e Corpo Pele da Alma (2015),
quando apresentou mais de 40 mini-esculturas em formato de roupas escultóricas suspensas no Centro Cultural Érico Veríssimo.
“Cristina transgride o significado do verbo
vestir. Corpo, roupa, pintura e escultura se mesclam em um drama
inconsciente transpassando nossas peles, revelando realidades
arquetípicas de nossa realidade social e emocional. Nossa
nudez simbólica é exposta, de uma forma poética e dramática. Suas
obras evocam sempre o feminino e o figurativo”, diz o artista e curador Carlos Wladimirsky. As fotos da
mostra são assinadas por Clovis Dariano e o texto pela historiadora, curadora e
professora do Instituto de Artes, Paula Ramos. Confira o texto na
íntegra.
Para
que servem as roupas, mesmo?
Respostas rápidas: para vestir, para cobrir, para encenar. Por necessidade,
por praticidade, por convenção. Como protesto, como propaganda, como defesa.
Para aquecer, para refrescar, para confortar. Como identificação cultural, como
diferenciação social, como signo. A lista é longa e generosa, desdobrando as
múltiplas possibilidades e códigos por trás do que nos encobre. E para que serviriam
as “roupas” de Cristina Rosa? Ela já avisa, de pronto: para não vestir.
A situação lembra os primeiros versos da música Espaço, de Vitor Ramil:
“Quarto de não dormir / Sala de não estar / Porta de não abrir / Pátio de
sufocar...”. Costumamos associar coisas a funções e, quando estas porventura
subvertem as primeiras, há, para muitos, estranhamento; para outros tantos,
janela aberta à fantasia. É nesse diapasão, do lúdico e do quimérico, que
vibram as peças aqui expostas.
As “roupas” de Bita – a propósito, Cristina Rosa – são expressão genuína
dela mesma, no liame com as paixões que lhe acompanham há décadas: colorir,
fabular, performar. “Cresci brincando de inventar. [...] Eu, o papel e as
cores. Eu e o papel. As cores e o papel. Eu e as cores.” O fragmento é de um
texto de 2015, que ela escreveu por ocasião da mostra individual Corpo pele da
alma, apresentada neste mesmo Centro Cultural CEEE Erico Verissimo. Há, no
escrito, uma circularidade e uma certa redundância que atravessam todos os seus
trabalhos plásticos. É como “brincar de inventar”: quase um pleonasmo, mas que
delícia de pleonasmo!
O exercício de meninice, observemos, mantém-se. Modeladas sobre manequins
de costureira, as bases de papel foram recebendo tecidos, plásticos, adesivos,
objetos diversos e ordinários: eles próprios conteúdo e cor. No jogo entre peso
e leveza, transparência e densidade, interior e exterior, a sugestão de estados
emocionais, das múltiplas e dissonantes faces que o feminino evoca. Sem contar
que as “roupas”, aqui, também flertam com figurinos, insinuando personagens e
recuperando, em grande medida, as mais de quatro décadas de trajetória de
Cristina Rosa no teatro.
Momento de recuperar suas palavras: Bita, o papel e as cores. Bita e o papel.
As cores e o papel. Bita e as cores. E, acrescentando: Bita em seus vários
papéis. Do que Cristina Rosa está falando, a todo momento: dela mesma. Em seus
excessos, em seus paradoxos, em seus devaneios. Fala dela, mas toca em todos
nós.
Paula Ramos
Historiadora e crítica de arte, professora do Instituto de Artes da
UFRGS
SERVIÇO
O
QUE: Exposição ROUPAS PARA NÃO VESTIR
ARTISTA: Cristina Rosa
CURADORIA: Carlos Wladimirsky
ONDE:
Sala Arquipélago do Centro Cultural CEEE Erico Veríssimo - CCCEV (Rua dos
Andradas, 1223, Centro Histórico)
VISITAÇÃO:
12 de junho a 12 de julho, das 10 às 19h, de terça a sexta feira.
Sábados, das 11h às 18h
TEXTO:
Paula Ramos
FOTOS:
Clovis Dariano
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