Mídia
Maria Elena Johannpeter mudou o conceito de voluntariado no país
Num dia, Maria Elena
Pereira Johannpeter, 68 anos, pintava casinhas e muros de Porto Alegre. No
outro, microfone em punho, instigava mulheres a enfrentar as urnas e se eleger
a cargos públicos: “Do contrário, nunca mudaremos nosso país”, discursou inflamada
e foi ovacionada pela plateia. A primeira cena ocorreu na ruela que desce da
favela Vila Gaúcha até o Estádio Beira-Rio, onde haverá jogos da Copa do Mundo.
A segunda, em um jantar com poderosas da Federação da Agricultura do Rio Grande
do Sul, que lhe concediam um prêmio. Aliás, ela tem vários, como a medalha
Pacificador da ONU Sergio Vieira de Mello, oferecida pelo Parlamento Mundial
para Segurança e Paz.
Décima filha de uma
família pobre de Gravataí (RS), que arrendava uma terrinha para plantar, Maria
Elena perdeu o pai aos 8 meses. Casou cedo, ajudou o primeiro marido a estudar
e não pôde ir à faculdade. “A vida é minha universidade”, lembra essa leitora
voraz e aprendiz atenta dos grandes administradores. Casada há 22 anos com
Jorge Gerdau Johannpeter, um dos empresários mais ricos e hábeis do Brasil, ela
preside a Parceiros Voluntários, que movimenta 3,8 milhões de reais por ano,
possui 51 unidades, impacta 1,5 milhão de pessoas, 2,8 mil organizações
não-governamentais e 2 mil escolas. O ponto forte do seu trabalho é capacitar
instituições de diferentes estados. “O país tem 290 mil ONGs. A maioria não
sabe captar recursos e prestar cont5as. Elas precisam atingir a
autossuficiência, ter uma gestão ousada e entender que, como unidade de
negócios, devem se preocupar com produtividade e transparência”, afira. Desde
1997, sua agenda é dedicada à ONG que criou. “Nas férias, procuro saber como
outras nações resolvem os problemas e de que forma a sociedade se envolve com
eles”.
Para Maria Elena, o
brasileiro é solidário, mas pouco voluntário. “Ele doa dinheiro, roupas... e
pronto. Lancei a ideia de disponibilizar tempo, conhecimento e emoção”. A
diferença: “Ao oferecer algo tão valioso, trago a causa para a minha vida, para
dentro de casa”. Ela costuma dizer que o voluntário põe o olho no olho. “A
emoção do que ajuda desperta um sentimento parecido no outro, transforma ambos
e traz ganho social”. Coautora de três livros, defende o conceito da
Responsabilidade Social Individual, a RSI, “que ressalta talentos e aviva o
verdadeiro valor interno”. Um maior envolvimento pode gerar também mais
recursos. No Brasil, são aplicados no terceiro setor apenas 2 bilhões de reais
por anjo. “O volume cresceria se, como nos Estados Unidos, o cidadão doasse
como pessoa física. Ainda esperamos que o governo faça tudo. A cultura precisa
mudar e as leis devem incentivar isso”. Com discurso afiado e mobilizando
plateias, há sempre alguém que lhe pergunta se não disputará eleição. Ela se
esquiva: “Já faço política. Chamo as pessoas para o autodesenvolvimento e a
cidadania participativa. Só não estou atrelada a partidos. Nem quero”.
ONG Parceiros Voluntários