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19/11/2015
Filósofo e educador Bernardo Toro acredita no fortalecimento das instituições sociais como saída para o desenvolvimento da América Latina
Referência fundamental
latino-americana em educação, sustentabilidade e inclusão social, o filósofo
colombiano Bernardo Toro palestrou, nesta quarta-feira (18), no almoço do Tá na
Mesa, na Federasul. Diante de uma plateia lotada, formada por representantes do
empresariado gaúcho, de instituições do Terceiro Setor e
jornalistas, o reconhecido pensador falou por cerca de duas horas sobre as
tendências e o futuro da América Latina, sobre o cuidado como paradigma
da inversão de impacto e sobre o método de aprendizagem vigente. Toro veio a
Porto Alegre para conhecer, durante um período de três dias (17 a 19 de
novembro), o modelo de gestão e voluntariado da ONG Parceiros Voluntários
que, segundo ele “é a organização
mais importante do Brasil, por ser especializada em
estratégias de cidadania”.
A Parceiros Voluntários iniciou suas
atividades no ano de 1996, inspirada no projeto de Toro chamado “Mobilização
Social para a Construção do Público”. “Toda nossa trajetória iniciou pela
crença de que é possível mudar a cultura da nossa sociedade. Precisamos deixar
esse sistema paternalista e acreditar na participação. Dessa forma vamos mudar
a política, economia e a vida das pessoas”, frisou Maria Elena Pereira
Johannpeter, presidente (voluntária) executiva da Parceiros Voluntários.
Durante a apresentação, Toro expôs algumas
das principais teses defendidas ao longo de sua trajetória, enfatizando que a
sociedade precisa aprender a cuidar das relações com as pessoas próximas e
também com aquelas que estão distantes. “A convivência de bairro, a colaboração
empresarial, a qualidade da política, a produtividade e o bem estar cotidiano
estão relacionados à capacidade que a sociedade tem de criar organizações ou
pertencer a elas”, pontua. Para ele, “o maior indicador de pobreza é não estar
organizado e o primeiro passo para sair da pobreza é a organização. Essa é a
base da governabilidade e da sustentabilidade”.
O filósofo também observou que o
desenvolvimento da América Latina depende de um empenho em criar e fortalecer
as instituições sociais. “A segurança econômica, social e política de uma
sociedade não provem nem da força nem do dinheiro, mas sim da qualidade das
suas instituições. As instituições entendidas como arranjos arbitrários, que
estabelecem regras para incentivar transações, são a base do bem estar e
riqueza de uma sociedade”.
Bernardo Toro notabiliza-se no cenário
mundial por ter sido o pioneiro na formulação de princípios fundamentais para o
desenvolvimento de um ensino de qualidade, capaz de formar crianças e jovens
preparados para ter participação produtiva no século 21 (Sete Códigos da
Modernidade) e também por se dedicar, a partir de uma perspectiva
científica e pragmática, às questões de mobilização popular no continente.
Autor dos livros A construção do público: cidadania, democracia e
participação, Mobilização Social: Um Modo de Construir a Democracia e a
Participação e Fala Mestre: Precisamos de Cidadãos do Mundo, é decano
acadêmico da Faculdade de Educação da Pontificia Universidad Javeriana de
Bogotá e membro dos conselhos da Confederação Colombiana de ONGs e do Centro
Colombiano de Responsabilidade Empresarial. Já atuou como consultor do Bando
Mundial e atualmente é assessor do comitê estratégico da fundação suíça Avina.
No Brasil, já desenvolveu trabalhos junto ao governo de Minas Gerais, na
reestruturação do modelo de educação do Estado.
Principais pensamentos de
Bernardo Toro no Tá na Mesa, em Porto Alegre:
Consolidação democrática:
“É necessário reforçar as
instituições, o poder cidadão, os governos locais, a sociedade civil, a
transparência, os direitos da mulher e dos povos indígenas, a convivência e
segurança, e fortalecer os acordos internacionais para a governabilidade
democrática em todo o mundo”.
Da inteligência guerreira
“A inteligência guerreira é
aquela vista como propriedade pessoal, privada e interna. Utilizada para
dominar, ganhar e que se manifesta no desempenho de provas que são critérios de
seleção. Então, existem as escolas que pretendem que seus estudantes sejam os
mais inteligentes, os mais competentes em diferentes provas de avaliação de
habilidades intelectuais, e tenham melhor saúde mental. Essa modelo de educação
existente na América Latina seleciona os melhores e usa a inteligência como um
fator de exclusão”.
Da inteligência altruísta ou o
altruísmo cognitivo
“Precisamos desenvolver a
capacidade de buscar ajuda nas tentativas de solução de um problema,
reconhecendo as fraquezas e aplicando o cuidado”.
“Desenvolver a responsabilidade
política, social e cultural do uso do intelecto: como devo ajudar? A principal
implicação dessa visão é que o cuidado do intelecto não custa e é um presente
por seu caráter social, público e inclusivo”.
“Saber oferecer ajuda e saber
pedir ajuda é uma das competências fundamentais para os novos líderes de uma
sociedade global”.
Inclusão social:
“Precisamos trabalhar para
reduzir a pobreza e a desigualdade, eliminar discriminações, promover igualdade
de oportunidades e redes de proteção social, fornecer bens e serviços públicos
de qualidade, com inclusão de moradias, saúde, educação, espaços urbanos
coletivos, transporte público e redes de comunicação digital”.
Mudanças climáticas:
“Assim como no universo nada
resiste a gravidade, na terra nada resiste às mudanças climáticas”.
“Tem que haver eficiência no uso
da água, da energia e das tecnologias ecológicas para garantir a segurança
alimentar, prevenir desastres naturais e reduzir a contaminação, o desmatamento
e a perda de biodiversidade”.
O cuidado como paradigma
da inversão de impacto:
“O dinheiro se converte em um
projeto ético quando é usado para criar passivos saudáveis, que vão se
converter em ativos que contribuem para a dignidade humana”.
“O critério ético, orientador
para a inversão de impacto, é estimar ou ponderar em que medida essa inversão
contribui para tornar possíveis os direitos humanos e para proteger ou
fortalecer os serviços ambientais”.
“Riqueza é o conjunto de bens,
serviços, valores, ambientes, relações e transações que nos permitem viver com
dignidade, cuidar dos serviços ambientais e sermos felizes”.
“O planeta não está em perigo. É
a espécie humana que está correndo o risco de perecer”.
“Investir em investigação e
desenvolvimento de modelos e tecnologias para a formação e fortalecimento do
autoconhecimento, da auto-regulamentação e da autoestima, são oceanos azuis que
estão esperando”.
“A consolidação de vínculos
saudáveis e sólidos são o fundamento da boa convivência, da produtividade, da
cultura de colaboração, da compaixão e uma forma comprovada de prevenir os
vícios, a depressão e o suicídio”.
Nova visão:
“Não devemos, nem é
possível construirmos uma muralha para nos isolar e proteger nossos recursos
diante das consequências que outros vão sofrer pelo aquecimento global e pelas
mudanças climáticas. Seremos e podemos ser parte fundamental do bem-estar da
espécie humana se aprendermos e implementarmos os valores desta nova cosmovisão
do cuidado. Esse é o novo significado que, como latino-americanos, podemos
oferecer a todos para a nova humanização. É o aprendizado herdado de nossos
ancestrais que nos ensinam a viver bem”
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