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12/02/2018
A força econômica do Terceiro Setor
A força econômica do Terceiro Setor
Algumas imagens falsas se consolidam como clichês. Uma delas é de
que o terceiro setor se limita à solidariedade. Essa visão reducionista
ignora pesquisas segundo as quais esse universo transformador envolve 300 mil ONGs
no Brasil e já representava 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, ou R$
32 bilhões, em 2007, quando foi feito tal levantamento. O voluntariado tem
forte e crescente caráter econômico. Sua
participação no PIB mundial alcança hoje 8%. No Brasil, já há 20 milhões de
voluntários e 1,7 milhão de empregados. Logo, é intensa a participação do
Terceiro Setor na economia, com um virtuoso caminho ainda a ser percorrido, o
que reforça o impacto do segmento e de que não é filantropia, mas inclusão
social.
No filme
Sociedade dos Poetas Mortos, o protagonista interpretado por Robin Williams
sobe na mesa e diz aos alunos: - O mundo é muito diferente visto daqui. E
o mundo é mesmo muito diferente visto pelo universo de milhões de pessoas que
se dedicam a causa do voluntariado. De lá é possível enxergar a possibilidade
de um capitalismo mais humano, com outra lógica de compartilhamento. Muitos já
o chamam de “quinto poder”. Não é Executivo, Judiciário ou Legislativo, nem
Ministério Público ou Imprensa. É a sociedade consciente. Terceiro setor, termo
cunhado em 1978 por John D. Rockfeller III, talvez seja o primeiro dos poderes,
ação dos cidadãos não só pelo bem do outro, mas da coletividade, já que o outro
não é alheio. E isso é economia.
O cientista
político Robert Putnam, em 2005, criou o conceito de “capital social”. Diz que,
quanto maior sua presença em uma nação, mais desenvolvida ela é. O Terceiro
Setor promove ganhos econômicos ao levar os excluídos para o mercado de
consumo.
Estudos de
Putnam mostram que as relações sociais se vinculam com as diferenças nos níveis
de crescimento de cada região, e o Terceiro Setor é decisivo nessas
assimetrias. Conforme Putnam, o capital social
“aumenta benefícios de investimento”. As palavras, “capital” e “social” podem e devem se ajudar. O
voluntariado é social, mas também é econômico. Precisa ser visto por essa
perspectiva. Desde 1990, o Banco Mundial analisa projetos sob o enfoque do
capital social e suas redes de inclusão. Equações já mostram a importância da relação entre os vetores VE
(Valor Econômico) e SV (Valor Social).
Lester
Salamon, da John Hopkins University, constatou haver 1,7 bilhão de voluntários
no mundo. Concluiu que tão expressivo grupo humano, se unido em uma nação,
equivaleria ao segundo país do mundo em termos populacionais. A pesquisa de
Salamon abarcou 22 países, incluindo o Brasil. Diz que o segmento gira US$ 1,1
trilhão e emprega 19 milhões de pessoas nessas nações.
Apenas no
Brasil, o Terceiro Setor movimenta R$ 11 bilhões. Emprega algo como 1,5 milhão
de pessoas.
Um exemplo é a
ONG Parceiros Voluntários, que completou duas décadas capacitando comunidades
proativas, transformando e incluindo pessoas e aparelhando a engrenagem da
economia. É inequívoco que a economia do país se beneficiou quando, nesses 20
anos, 7 milhões de pessoas foram atingidas, com a participação de mais de 400
mil voluntários mobilizados no Rio Grande do Sul. Em termos de educação, base
de qualquer sociedade e esteio da economia, mais de 2,1 mil instituições de
ensino foram beneficiadas.
Trata-se de,
como diz Salamon, “gerar o bem-estar social e beneficiar a economia”.
O terceiro
setor cresce na medida em que se intensificam desigualdades. Vem de cinco
séculos se percebermos o sentimento a nortear a fundação da Santa Casa de
Misericórdia de Santos, em 1543. Desde então, aumentou sua necessidade, com
assistências e capacitações. Sócio-diretor da Mobiliza, Rodrigo Alvarez fala em
modelos nos quais o social e o econômico conversem. Enfatiza os “modelos
híbridos de financiamento do impacto social”, para que haja “maior integração
entre investimento social privado e o negócio”. O objetivo é de que “o
investidor sinta que seu recurso foi bem investido e que vale a pena
continuar”. Isso é dar sustentabilidade, perenidade e geração de riquezas. É
vínculo entre social e econômico.
Parece haver
um apelo em coro. Diretora-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do
Investimento Social (Idis), Paula Fabiani, vê espaço para o setor no
Brasil: - As pessoas que já passaram por necessidades tendem a ser mais
solidárias – diz. Paula se ampara em pesquisa segundo a qual as pessoas
com alta renda doam 0,4% do que têm. As com renda anual inferior a R$ 10 mil
doam 1,2%. O necessitado vê melhor a importância do setor para a economia.
E a seguinte
constatação é reveladora: no Brasil, 51% das pessoas doam porque se sentem bem;
41% se preocupam com alguma causa; 40% acreditam que todos devem ajudar a
resolver problemas sociais; e 40% querem ajudar pessoas menos favorecidas. A
presidente da Idis conta que pesquisas similares feitas em outros países
mostram o inverso. Mais de 50% se preocupam com a causa. Há, portanto,
potencial para mudanças de perspectiva no Brasil. Paula identifica nos
incentivos fiscais uma forma eficiente de fazer com que quem tem renda superior
a R$ 100 mil anuais seja incentivado a participar de um setor tão relevante
para a economia.
Em seu
trabalho “Responsabilidade social - uma alavanca para a sustentabilidade”,
Maria Elisabeth Pereira Kraemer, mestre em Relações Econômicas Sociais e
Internacionais, resume: “Empresas socialmente responsáveis geram valor para
quem está próximo. E, acima de tudo, conquistam resultados melhores para si. A
responsabilidade social deixou de ser opção para as empresas. É questão de
visão, de estratégia e, muitas vezes, de sobrevivência”. Também diz que
“compreender essa mudança de paradigma é vital para a competitividade”. A
adesão costuma ocorrer por meio de condutores que pavimentam o caminho. Estima-se que 12 milhões de pessoas estejam
envolvidas com essa área no Brasil. Conforme pesquisa Fasfil, havia 290 mil
instituições privadas sem fins lucrativos em 2010.
Paradoxalmente,
a pesquisa Voluntários no Brasil, elaborada pela Fundação Itaú Social e pelo
instituto DataFolha, revela: o Brasil tem amplo espaço para avançar nesse rumo.
Há 72% de brasileiros que nunca fizeram atividades voluntárias. Logo, há
potencial a ser trilhado. David Braga, CEO da Prime Talent, diz que o Terceiro
Setor é tendência de mercado. Para as empresas, “gera engajamento,
posicionamento e fortalecimento da marca”, sendo “diferencial no mercado”.
Braga salienta que há “organizações sociais profissionalizadas”, algo “cada vez
mais frequente”.
Outro
levantamento revelador vem do Centro de Estudos em Administração do Terceiro
Setor (Ceats). Diz que 56% das empresas pesquisadas investem em atividades
sociais, e as percepções com os efeitos atingem em cheio os fatores econômicos:
40% creem que as ações sociais envolvem mais o funcionário com o trabalho e 34%
creem que aumentam a produtividade. Outro dado: a ChildFund, que beneficia 123
mil pessoas em ações sociais, assegura: o Terceiro Setor movimenta R$ 25
bilhões por ano no Brasil. Diretor da ChildFund no país, Gerson Pacheco
identifica “miopia” nessa área, que merece a formação de profissionais nas
academias.
Universidades,
pesquisadores e a imprensa devem se debruçar mais sobre esse setor. O austríaco
Peter Drucker, o “pai da administração moderna”, dizia, 70 anos atrás, que “o
produto de uma organização social é o ser humano transformado”. E James Austin,
da Harvard Business School, assevera que “o negócio dos negócios é criar valor
social além do econômico”, porque “o valor econômico nem sempre cria valor
social, mas o valor social sempre cria valor econômico, numa espiral virtuosa”.
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